Oito testemunhas arroladas pela defesa do tenente-coronel Mauro Cid prestaram depoimento nesta quinta-feira (22) no Supremo Tribunal Federal (STF). Todas negaram ter conhecimento ou conversado com o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro sobre qualquer plano golpista. A audiência foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da (AP) 2668 que investiga a suposta trama para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Durante pouco mais de uma hora de depoimentos, militares de diferentes patentes – desde capitão até general – reforçaram o mesmo discurso: Mauro Cid nunca mencionou qualquer tentativa de golpe de Estado. As declarações ocorrem no âmbito do processo que investiga o Núcleo 1 da trama golpista, onde estão o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Defesa, general Braga Netto.
Generais destacam conduta exemplar de Mauro Cid
O primeiro a depor foi o general da reserva João Batista Bezerra, que conhece Mauro Cid desde 2014, quando o militar ainda era major. Bezerra enfatizou que o relacionamento entre eles sempre foi profissional e que Cid “nunca comentou sobre o plano golpista”. O general caracterizou o tenente-coronel como “um militar exemplar” e afirmou que “nunca houve nada que maculasse sua conduta”.
Na sequência, o general Edson Dieh Ripoli, que conhece Cid desde criança e começou a trabalhar com ele em 2015, descreveu o militar como “absolutamente leal e correto”. Ripoli ressaltou que, mesmo durante o período em que teve muito contato com Cid – entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020, quando trabalhava com o ministro da Defesa -, jamais houve qualquer menção a planos contra a democracia.
O general também revelou ter visitado Mauro Cid durante sua prisão em 2023, mas garantiu que não houve “nenhuma conversa sobre golpe” durante o encontro, descrito como “rápido”.
Ex-comandante do Exército nega pressões golpistas
Um dos depoimentos mais aguardados foi o do general Julio Cesar de Arruda, ex-comandante do Exército, que conhece Mauro Cid há duas décadas. Arruda confirmou ter visitado o tenente-coronel na prisão, mas negou categoricamente ter conversado sobre a tentativa de golpe de Estado. O general destacou que Cid sempre foi “respeitoso” e que “tudo o que se propõe a fazer, tanto na parte profissional quanto na intelectual, sempre se saiu muito bem”.
Durante seu depoimento, Arruda foi questionado pelo Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, sobre uma suposta expulsão do general Mauro Fernandes de sua sala, relacionada a pressões para barrar a posse de Lula. O ex-comandante negou a versão: “Conversamos diversos assuntos, mas não o expulsei da minha sala. Não confirmo essa história que saiu na imprensa”.
O general também enfrentou questionamentos sobre sua demissão pelo presidente Lula após os atos de 8 de janeiro de 2023, mas afirmou desconhecer os motivos. Quando perguntado sobre uma frase que teria dito ao comandante da operação policial no acampamento em frente ao Quartel-General do Exército – “o senhor sabe que minha tropa é muito maior que a sua, né?” -, Arruda disse não se lembrar e que apenas tentou “coordenar as ações e acalmar os ânimos”.
Militares de menor patente mantêm versão uniforme
Os depoimentos seguiram o mesmo padrão entre os militares de patentes inferiores. O coronel Fernando Linhares Deus confirmou ter se encontrado com Mauro Cid em outubro do ano passado, mas negou ter tratado sobre a trama golpista. Já o capitão Raphael Maciel Monteiro, que mantém proximidade familiar com Cid, revelou ter feito “frequentes visitas” ao militar na prisão.
Segundo Monteiro, durante essas visitas conversaram sobre informações divulgadas na imprensa, e Cid sempre “manifestava repúdio” a qualquer atentado contra a democracia. O capitão descreveu que o tenente-coronel ficou “profundamente pesaroso” e “entristecido” com os fatos relacionados ao caso, mas negou ter falado sobre a minuta do decreto golpista.
O tenente Luís Marcos dos Reis e o tenente Adriano Alves Teperino, ex-coordenador da ajudância de ordens de Bolsonaro, seguiram a mesma linha de defesa. Teperino destacou que Mauro Cid “sempre orientou a equipe a estar pronta para apoiar o governo de transição” e que “nunca chegou a comentar nenhum fato da ação penal”, mesmo em conversas posteriores à prisão.
Audiência encerrada com uma ausência
A audiência teve início às 8h01 e foi encerrada às 9h21 pelo ministro Alexandre de Moraes, após todos os depoimentos programados. Das oito testemunhas convocadas, apenas Flávio Alvarenga Filho não compareceu, sem justificativa apresentada durante a sessão.
Os depoimentos desta quinta-feira representam uma estratégia da defesa de Mauro Cid para caracterizar o militar como alguém íntegro e distante de qualquer conspiração golpista. O tenente-coronel é considerado peça-chave na investigação, tendo firmado acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República, fornecendo informações que levaram ao indiciamento de dezenas de pessoas, incluindo o ex-presidente Bolsonaro.
Nesta sexta (23), está prevista às 8h, a audiência das testemunhas do deputado Alexandre Ramagem, ex- chefe da Agência Brasileira de Inteligência. No período da tarde, às 14h, estão marcados os primeiros depoimentos das testemunhas de defesa de Bolsonaro.