Fernando Sarney, filho do ex-presidente da República José Sarney, assumiu interinamente a presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) após o afastamento de Ednaldo Rodrigues. A mudança foi determinada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro nesta quinta-feira (15/5), em decisão que abre novo capítulo na conturbada gestão do futebol brasileiro.
De vice-presidente a interventor
Aos 70 anos, o maranhense Fernando Sarney ocupará o cargo provisoriamente. Conforme a decisão judicial, ele tem a obrigação de convocar eleições para os cargos diretivos da entidade “o mais rápido possível”, devendo atuar como interventor durante o período de transição.
A decisão do desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro determinou o afastamento de Ednaldo Rodrigues após constatar indícios de vícios de consentimento no acordo que viabilizou sua eleição em março de 2022, especialmente relacionados à suposta falsificação da assinatura de Antônio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes, ex-presidente da CBF.
Trajetória no futebol brasileiro
Graduado em engenharia civil, Fernando Sarney é empresário e proprietário do Sistema Mirante de Comunicação, uma rede de emissoras de rádio e televisão no Maranhão. Sua carreira na CBF começou em 2004, durante a gestão de Ricardo Teixeira, figura controversa que comandou a entidade por duas décadas.
Em 2015, após a renúncia de Marco Polo Del Nero, Sarney passou a ocupar um lugar no Comitê Executivo da FIFA, ampliando sua influência no cenário internacional do futebol. As divergências com Ednaldo Rodrigues teriam se intensificado quando o filho do ex-presidente da República foi retirado deste comitê.
Disputas internas e judiciais
Não por acaso, Fernando Sarney havia entrado na Justiça pedindo a anulação do acordo que viabilizou a eleição de Ednaldo Rodrigues, questionando especificamente a autenticidade da assinatura de Coronel Nunes no documento. Este questionamento foi fundamental para a decisão judicial que culminou no afastamento da diretoria da CBF.
A mudança ocorre em momento delicado para o futebol brasileiro, com a seleção principal se preparando para a Copa América e as categorias de base para os Jogos Olímpicos de Paris, além dos campeonatos nacionais em andamento.
Histórico de polêmicas judiciais
O novo presidente interino da CBF carrega seu próprio histórico de controvérsias com a Justiça. Em 2006, a família Sarney foi envolvida na Operação Boi Barrica (posteriormente renomeada para Operação Faktor), que investigava casos de corrupção.
Em 2009, Fernando Sarney foi indiciado pela Polícia Federal sob acusações que incluíam formação de quadrilha, tráfico de influência e falsificação de documentos. No mesmo ano, sua esposa e filha, sócias de sua empresa, também foram indiciadas em desdobramentos da mesma operação.
Tentativas de censura à imprensa
Ainda em 2009, o dirigente protagonizou um caso de repercussão nacional ao obter, via judicial, uma decisão que proibia o jornal O Estado de S. Paulo de publicar reportagens relacionadas à Operação Faktor, ação vista por muitos como tentativa de censura à imprensa.
No ano seguinte, Fernando Sarney voltou às manchetes quando a Folha de S. Paulo o acusou de movimentar dinheiro no exterior sem declarar à Receita Federal. Após se recusar a responder às perguntas das autoridades, foi indiciado pela Polícia Federal em maio de 2010 por evasão de divisas.