A coalizão Aliança Democrática (AD) venceu as eleições legislativas em Portugal neste domingo, mas sem conquistar maioria absoluta no Parlamento. O resultado que mais chamou atenção foi o expressivo desempenho do Chega, partido de extrema direita que terminou em terceiro lugar, praticamente empatado com o Partido Socialista (PS) em um dos piores resultados da agremiação em décadas.
Com quase todos os votos apurados, a AD obteve 32,7% dos votos, garantindo 89 cadeiras parlamentares. O número fica abaixo dos 116 assentos necessários para governar sem apoio de outros partidos, configurando um cenário de instabilidade política no país ibérico.
O Partido Socialista conquistou 23,38% dos votos, correspondendo a 58 cadeiras no Parlamento. O resultado representa uma queda significativa em relação às eleições anteriores, quando a legenda alcançou 27,98% dos votos.
Chega surpreende com crescimento expressivo
O destaque da votação foi o desempenho do Chega, que conseguiu 22,56% dos votos. O partido de extrema direita conquistou 58 deputados, o mesmo número que o PS, melhorando consideravelmente seu resultado anterior.
O crescimento representa um salto em relação aos 18% obtidos na última eleição. Segundo o jornal Diário de Notícias, o clima na sede do PS foi de “consternação” após a divulgação dos resultados.
António Tânger Corrêa, eurodeputado do Chega, declarou ao Diário de Notícias que o partido “está em ascensão”. Ele afirmou que a sigla “agora tem uma palavra a dizer sobre a condução da política em Portugal”.
Críticas ao cordão sanitário
Tânger questionou o veto das demais forças políticas à participação do Chega em coalizões de governo. “Nós somos vítimas do mesmo cordão sanitário em Bruxelas e consideramos isso totalmente antidemocrático”, disse o eurodeputado ao Diário de Notícias.
O representante do partido considerou que a rejeição se deve ao “medo da ascensão do Chega”. “É uma questão de poder. Mais tarde ou mais cedo vai cair também”, completou Tânger sobre o isolamento político da agremiação.
O Chega tem na questão migratória uma de suas pautas centrais, tema que ganhou destaque durante a campanha eleitoral. O partido defende posições mais rígidas em relação à imigração no país.
Crise política motivou nova eleição
Esta foi a segunda eleição legislativa em pouco mais de um ano. O pleito foi convocado em março, após o Parlamento rejeitar uma moção de confiança ao primeiro-ministro Luís Montenegro.
A queda do governo ocorreu em meio a uma série de escândalos envolvendo o premier. O caso que determinou sua derrota no voto de confiança envolve uma empresa de prestação de serviços fundada por Montenegro e sua família em 2021.
Quando foi eleito presidente do Partido Social Democrata (PSD) em 2022, Montenegro vendeu suas ações na empresa à esposa e aos dois filhos. A oposição apontou que, como Montenegro permanece casado em regime de comunhão de bens, a transação seria considerada nula.
Montenegro rejeitou investigação parlamentar
O primeiro-ministro se negou a permitir a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, como demandavam os socialistas. Em vez disso, convocou uma moção de confiança sabendo que as chances de derrota eram praticamente certas.
“Essas eleições foram causadas por um problema pessoal do primeiro-ministro”, avaliou o cientista político António Costa Pinto à BBC. Para analistas, a estratégia de Montenegro visava evitar mais desgastes com uma investigação envolvendo sua família.
O resultado eleitoral deixa Portugal em um cenário de incerteza política, com a necessidade de negociações para formar um governo de coalizão ou minoritário.