Por Jeffis Carvalho
Nunca a igualdade foi tão necessária e, ao mesmo tempo, tão desafiante. Ainda mais no Brasil, um dos países mais desiguais do mundo. Para lançar luzes e apontar possíveis caminhos para a superação do problema, recorrente em todo o planeta, Thomas Piketty e Michael Sandel, dois dos pensadores mais influentes do mundo, refletem sobre o valor da igualdade e debatem o que cidadãos e governos devem fazer para diminuir as lacunas que nos separam.
Em 143 páginas, Igualdade, Significado e Importância é uma conversa editada entre Thomas Piketty, um dos principais economistas que trabalham com desigualdade, e Michael Sandel, um filósofo político cujo curso “Justiça” tem sido por muitos anos a aula de graduação mais popular de Harvard. O encontro se deu há exato um ano, em maio de 2024, na Escola de Economia de Paris, onde Piketty é professor.
Abrangendo economia, filosofia, história e atualidades, Piketty e Sandel consideram o quanto avançamos na busca por maior igualdade. Ao mesmo tempo, confrontam as diferenças extremas que persistem em termos de riqueza, renda, poder e status, tanto nacional quanto globalmente.
O resultado é um texto fluido que aborda de forma perspicaz a tensão entre os ideais de igualdade e a realidade do capitalismo contemporâneo. Nesse sentido, pontua como a lógica binária de vencedores e perdedores permeia não apenas o mundo econômico, mas também a cultura popular e até mesmo os discursos midiáticos. Essa observação é especialmente relevante, pois expõe como a obsessão pela hierarquia está enraizada nas estruturas sociais, muitas vezes mascarando questões mais profundas, como a desigualdade sistêmica.
A menção ao filósofo Slavoj Žižek e sua análise em Menos que Nada acrescenta uma camada crítica à discussão, ao destacar a precariedade da classe trabalhadora sob o capitalismo. Žižek sugere que a igualdade, no contexto atual, é frequentemente diluída ou mesmo negada a ponto da classe trabalhadora oscilar entre a invisibilidade social e a criminalização. Essa perspectiva convida à reflexão sobre as condições necessárias para que a igualdade se torne uma realidade tangível e não apenas um ideal abstrato.
Outro ponto marcante da conversa entre os dois pensadores é a provocação sobre a possibilidade de repensar os discursos, com a inversão de perspectiva para desafiar as narrativas tradicionais de competição e ascensão, centrando-se em valores como solidariedade e cooperação. Mas, claro, o desafio implícito permanece: seria possível alcançar esse tipo de igualdade substancial sem questionar as bases do capitalismo? Essa pergunta é deixada aberta, mas ela ecoa como um convite à ação e ao pensamento crítico.
Por isso mesmo, no geral, as reflexões de Piketty e Sandel articulam de maneira incisiva e reflexiva as tensões entre as forças capitalistas e os ideais de igualdade, ao mesmo tempo que instiga o leitor a imaginar um futuro que transcenda as lógicas hierárquicas dominantes. Eles concordam que a desigualdade é um enorme problema e três razões são apresentadas como principais: acesso a bens básicos para todos, a importância da igualdade política (voz, poder, participação) e dignidade.
No prefácio da edição brasileira, Laura Carvalho, professora associada do Departamento de Economia e da FEA-USP, escreve que esta conversa entre Thomas Piketty e Michael Sandel “nos mostra que as implicações da desigualdade vão além dos números e tocam na própria estrutura da democracia, da economia e da vida social”. A professora conclui: “a edição brasileira deste livro chega em um momento decisivo. O Brasil enfrenta desafios profundos para combater a desigualdade, redefinir o papel do Estado e reconstruir um senso de pertencimento coletivo”.
Igualdade, Significado e importância
Thomas Piketty e Michael Sander
Civilização Brasileira
143 págs., R$ 51,00
Thomas Piketty é professor na Escola de Economia de Paris. Autor de diversos best-sellers, incluindo o Capital no Século XXI e Uma Breve História da Igualdade.
Michael Sandel é professor na Universidade Harvard e autor de diversos livros, incluindo o best-seller Justiça: o que é fazer a coisa certa.